Anhanguera

 

Em 1582 desembarca no Brasil Bartolomeu Bueno, o Sevilhano. Seu ofício era carpinteiro mas, apesar de analfabeto, atuou também como juiz de Ofício, Carpinteiro Aferidor, Almotacel e Vereador.

 

Francisco Bueno foi o segundo filho do Sevilhano com Maria Pires. Era sertanista caçador de índios, principalmente das missões religiosas.

No início do século XVII padres jesuítas espanhóis já haviam implantado com grande sucesso diversas Missões onde hoje temos o Pará, o oeste do Paraná, Paraguai e Bolívia, posteriormente também norte da Argentina e oeste do Rio Grande do Sul. Eles atuavam pacificamente com os índios, convencendo-os a adotarem hábitos cristãos e construindo igrejas rodeadas por casas, ao hábito espanhol, as Missões, além de ensiná-los métodos de condução de lavouras e de criação de animais trazidos da Europa.

Alguns sertanistas que saíam à caça de índios para escravizar preferiam atacar essas missões, porque os índios nesses lugares já estavam “amansados”, agrupados, apresentavam menor resistência ao cativeiro, e já tinham alguma instrução.

 

O segundo filho de Francisco Bueno com Filipa Vaz foi Bartolomeu Bueno da Silva, que viria a ser conhecido como o Anhanguera Pai.

Por volta de 1670/1673, Bartolomeu saiu da Vila de Sant’Ana do Parnaíba, em São Paulo, rumo ao sul de Goiás, com o objetivo de escravizar o gentio, os índios e, se possível, descobrir alguma lavra de ouro. O grupo era composto de mais de 150 homens, inclusive o filho de mesmo nome que tinha então entre 15 e 18 anos. Chegando ao Rio Araguaia, quase no Mato Grosso, encontrou a Bandeira de Antonio Pires de Campos, descobridor das minas mato grossenses. Antonio pediu a Bartolomeu que conduzisse a São Paulo os índios da nação Araés que ele havia aprisionado, uma vez que havia mais uma aldeia para conduzir e ele não tinha condições de levar os dois grupos.

No retorno a São Paulo, buscando o curso do Rio Vermelho, Bartolomeu chega por acaso às aldeias dos índios Goyá. Como eram índios pacíficos, mandou construir barracos de palha e plantar roças, para refazer provisões que os permitissem chegar com tranquilidade a São Paulo. Esse arranchamento aparentemente foi feito na margem esquerda do Rio Vermelho, próximo ao local onde hoje se situa a prefeitura da Cidade de Goiás e teria durado entre 1682 e 1684.

Enquanto os índios Araés escravizados cuidavam dos barracos e das roças, os homens de Bartolomeu batiam o Rio Vermelho e seus afluentes em busca de ouro, com pouco sucesso.

Vendo algumas índias Goyá enfeitadas com folhetas de ouro e já agoniado pelo insucesso de seus homens em encontrar as jazidas, certo dia, ao encontrar um grupo razoável de índios em um córrego, Bartolomeu despeja aguardente em uma cuia, se aproxima dos índios e os questiona mais uma vez a respeito da localização do ouro. Não obtendo a resposta desejada, ateia fogo à aguardente e ameaça fazer o mesmo com os rios se os índios não indicassem o local onde poderia encontrar o ouro.

Instalado o medo nos índios, Bartolomeu conseguiu a localização das minas de ouro e ainda ganhou o apelido de Anhanguera, que significa Diabo Velho, ou Espírito Mau.

Após refeitas as provisões e de extraído o tanto de ouro que conseguia transportar, Anhanguera aprisionou também os índios Goyá e, depois de marcá-los a ferro para expressar sua propriedade, como era seu costume, marchou rumo a Sant’Ana do Parnaíba.

Aparentemente o expediente de atear fogo na aguardente para assustar os índios não foi original, era usado eventualmente pelos sertanistas paulistas, assim como o apelido de Anhanguera também não era exclusivo de Bartolomeu Bueno da Silva, mas a fama ficou com ele em ambos os casos.

 

Depois de participar da bandeira com o pai, Bartolomeu Filho foi para as Minas Gerais, Sabará, São João do Pará e, por último, em Pitangui, onde foi o encarregado da cobrança do quinto para a Coroa Portuguesa. Depois de alguns anos ele volta para a Vila de Sant’Ana do Parnaíba onde, junto com diversas outras pessoas, decide retornar às terras dos índios Goyá.

Em janeiro de 1720 envia carta ao Rei de Portugal solicitando permissão para essa incursão, cuja autorização é recebida um ano depois, em fevereiro de 1721. Mais um ano de preparativos e, provavelmente em julho de 1722, sai a bandeira com pouco mais de 150 homens, entre eles portugueses, paulistas, baianos, escravos e, como sempre, alguns padres.

A viagem não foi fácil, Bueno Filho era pessoa de difícil trato e muito persistente. Apesar das dificuldades, inclusive alguns abandonos e uma tentativa de motim, permaneceu firme no propósito de só voltar a São Paulo após encontrar as minas descobertas na bandeira de seu pai.

Após meses vagando pelos sertões de Goiás, localizou o local onde estava o que restara da tribo Goyá, e alguns dos índios ainda lembravam da passagem do Anhanguera 40 anos antes. Até então, Bartolomeu Filho havia conseguido juntar pouco mais de 100 gramas de ouro e, chegando ao lugar que procurava, tendo seu grupo já bastante reduzido, retornou a São Paulo, onde chegou com apenas 40 homens em outubro de 1725. Imediatamente solicitou autorização para nova bandeira.

Autorizada a nova incursão em abril de 1726, já em julho do mesmo ano saiu rumo às Minas dos Goyazes. Chegando às margens do Rio Vermelho, sete dias depois encontrou o lugar onde seu pai montara o arranchamento. Na sequência montou outros povoamentos para apoiar o garimpo: Barra, Ferreiro, Anta, Ouro Fino e Santa Rita.

Em 1728 retorna a São Paulo buscando sua nomeação ao cargo de Superintendente das Minas dos Goyazes. No mesmo ano, ao voltar para Goiás com poderes quase imperiais, adere fortemente ao nepotismo, prática comum numa época onde a maioria das pessoas buscava enriquecer através da aventura e do saque, e os parentes acabavam sendo um grupo onde se conseguia um pouco mais de fidelidade. A forma de agir de Anhanguera Filho teria causado muitos descontentamentos entre os habitantes das Minas, principalmente em Meia-Ponte, de tal forma que assassinatos faziam parte do cotidiano e os encarregados da cobrança do quinto real eram rotineiramente expulsos dos povoados.

Anhanguera Filho faleceu em 1740, aos 85 anos, no Arraial da Barra (atual Buenolandia), onde residia.