Estrada Imperial Real - manter e ampliar

 

18 de maio de 2021.

Aluguei uma casa para passar alguns meses na agradável Cidade de Goiás, ou Goiás Velho, como alguns preferem, ou Villa Boa de Goyaz, como eu prefiro.

Uma de minhas distrações aqui é caminhar por 2 ou 3 horas, de manhã, antes que esquente demais. Ontem fui até a Igreja do Ferreiro, lugar bonito, Igreja linda, compensa conhecer. Patrimônio tombado pelo IPHAN e recuperado com o apoio da comunidade, faz parte do Caminho de Cora.

Hoje resolvi dar um passeio mais leve, pelas ruas da cidade, conhecer um pouco mais de seus becos. Mas o acaso me reservou uma surpresa muito agradável.

Primeira parada: Chácara do Bispo (uma das residências do Bispo na cidade), que dizem ser muito bonita, mas estava fechada. Nem o bispo escapa da insegurança desse nosso Brasil, é protegido por um portão de 3 metros que permite passar por muro de 4 metros que cerca toda a área.

Meia volta para pensar para que lado vou agora, e aqui começa a agradável surpresa: uma marca do Caminho de Cora apontando para fora da cidade, para o meio do mato. Sem compromisso com nenhum roteiro predefinido, resolvo dar uma espiada para onde a marca apontava.

Depois de uns 200 m acompanhando o muro superior da Chácara do Bispo começa uma trilha no meio do mato e vi um totem interessante que eu não conhecia: Estrada Imperial Real. Sabia que haviam mapeado, há algum tempo, um pedaço da Estrada Real ali para os lados da Carioca. Devia ser isso, resolvi conferir. Continuei acompanhando a trilha e fui passando por mais uns totens semelhantes, em alguns momentos segui uma trilha que acabava logo, voltava, e cheguei na cerca de uma fazenda. Como a trilha estava com muito mato, e da cerca da fazenda vi o asfalto da GO-164, optei por atravessar o pasto e voltar para a cidade com mais tranquilidade.

Pesquisei agora sobre a Estrada Imperial Real. É um trajeto de 2.600 m em uma área de reserva florestal, que termina nessa cerca da fazenda, e que foi delimitado sobre o trecho inicial do caminho que era usado no século 18 pelos tropeiros que levavam o ouro para o Rio de Janeiro e voltavam trazendo mercadorias da metrópole ou de além-mar.

Mas o que me levou a escrever este artigo, além de registrar essa agradável e linda opção de passeio, foi a observação, mais uma vez, da dificuldade que nós, brasileiros, temos para manter e melhorar boas ideias e boas iniciativas. Percebe-se que a trilha, ainda que relativamente curta, em algum momento foi muito bem limpa, com largura entre 1 m e 1,5 m, em alguns pontos foram feitos muros de arrimo para que a trilha não desabe, de pedra para manter o clima bucólico, o jeito antigo. A sinalização é pouca, apenas alguns totens no caminho, e nada indicando direções ou um mapa da trilha.

Nesse ponto do artigo eu havia começado a lamentar sobre os "talvez se tivessem feito". Alterei o texto para listar algumas sugestões que permitirão aos caminhantes e turistas aproveitar essa bela iniciativa:
- limpar novamente a trilha e, principalmente, mantê-la limpa. Com algum esforço e alguma sorte, eu consegui seguir a trilha, mas o mato tomou conta, parece que foi esquecida, e a grande maioria dos caminhantes não tem a disposição para rasgar o mato arranhando as pernas e braços;
- criar e divulgar, na Internet e, principalmente, no local, um mapa da trilha, para que as pessoas saibam o que tem para ver na trilha e onde devem e podem ir e, principalmente, sinalizar a trilha. A trilha, pelo que vi, tem diversos ramais, trilhas secundárias, talvez até mais interessantes que a principal, mas não encontrei em nenhum lugar indicações disso. Em alguns momentos segui por ramais secundários (ou seriam apenas trilhas de animais?) para depois voltar porque não encontrei continuação ou um objetivo claro para aquela trilha;
- ampliar a trilha. É lógico que, antes de ampliar, é necessário recuperar e manter o que já existe. Tive a impressão que incluíram, ou tentaram incluir, a Estrada Imperial Real no Caminho de Cora. Seria muito bom poder sair da cidade ali por trás da Chácara do Bispo e voltar, talvez pela Igreja de Santa Bárbara, ou então ir até a Igreja do Ferreiro, e quem conhece a região com certeza saberá indicar outros roteiros possíveis e melhores. Li que tem gente criando uma trilha que ligará a Cidade de Goiás à Chapada dos Veadeiros. Imagino também que existam outros trechos dessa estrada dos tropeiros que possam ser interligados.

Forçando um pouco o português: no Brasil sobra iniciativa, mas falta muito "continuativa" e "terminativa". Uma iniciativa como essa tem muito para não acabar, para ampliar, para fazer mais. Mas antes é necessário que seja mantido o que já foi feito. Torço muito para que não seja mais uma das excelentes iniciativas que, em algum momento, foram tomadas nesse nosso Brasil e que depois são esquecidas, deixadas ruir.

 

Totem Estrada Imperial Real Caliandra Estrada Imperial Real Trilha Estrada Imperial Real

 

04 de junho de 2021 - grata surpresa: começaram a limpar a trilha.