Chapada dos Veadeiros

Contam os guias locais que, em algumas fotos de satélite, a Chapada se destaca como um ponto brilhante no globo. Isso se daria porque essa região fica sobre uma imensa placa de cristal de quartzo, o mais antigo patrimônio geológico do continente, formado há 1 bilhão e 800 milhões de anos.

Trata-se de um local de intensa beleza natural, um verdadeiro santuário ecológico. São muitos cânions rochosos, trilhas, cachoeiras e poços de água cristalina, onde podemos sentir toda a força e energia do cerrado. São também riquíssimas sua fauna e flora.

É atribuída à região a alcunha de "Chácra Cardíaco da Terra", devido ao imenso lençol subterrâneo de cristais que exerce forte energia sobre a região que, por sinal, é também cortada pelo paralelo 14, o mesmo de Machu Pichu, no Peru. Por essas características, atraiu inúmeros grupos místicos, esotéricos, espiritualistas, praticantes de meditação, yoga e hippies. São também comuns no local as histórias sobre discos voadores e seres extraterrestres.

O nome da chapada faz referência aos caçadores de veado-campeiro. Está localizada no nordeste do estado de Goiás e abrange cinco municipios: Alto Paraíso, Cavalcante, Colinas do Sul, São João D'aliança e Teresina de Goiás. Possui área total de 15.267 km2 e uma população de pouco mais de 30 mil habitantes.

Abriga o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, reconhecido como Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO, e a Área de Proteção Ambiental de Pouso Alto onde se localiza o ponto mais alto do planalto central, com 1676 metros de altitude, além das nascentes mais altas da bacia do Rio Tocantins que, por sua vez, busca ao norte a Bacia do Rio Amazonas. Por ser uma das áreas de maior biodiversidade existentes no país, a região também recebeu o título de Reserva da Biosfera Goyaz.

Fica 230 km distante de Brasília e 430 km de Goiânia. Em sua história, presenciou as Bandeiras no ciclo do Ouro, protegeu escravos fugidos em seus quilombos, e ficou conhecida no ciclo do cristal.

História da Chapada dos Veadeiros

Seus primeiros habitantes conhecidos foram os índios Avá Canoeiros, Crixás e Goyazes.Por volta de 1730, começam a chegar os primeiros bandeirantes, que vinham faiscando o ouro dos riachos e criando as primeiras vilas e arraiais.

Decisivo para o povoamento da região de Alto Paraíso foi a implantação, em 1750, da propriedade do Sr. Francisco de Almeida: a Fazenda Veadeiros, que passa a ser um pequeno núcleo de colonização, no qual foram se agrupando camponeses que se dedicaram à pecuária e ao cultivo de trigo e café. Da decadência do ouro (1780) até o fim do século XIX, nada ocorreu nestas paisagens que perturbasse o bucolismo dos quintais e do pastoreio.

Em 1912 foi descoberta a primeira grande jazida de cristal-de-rocha da Chapada. O povoamento de São Jorge, onde está localizada a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, ocorreu em função da exploração desse mineral.

A partir da inauguração de Brasília, em 1960, com mais intensidade a partir dos anos 1970, começam a chegar na Chapada pessoas em fuga da rotina estressante dos grandes centros urbanos, em busca de uma vida melhor, mais tranquila. Acompanhando esse movimento, cresce o esoterismo na região.

Na década de 1980, surge com força o Ecoturismo, e a Chapada dos Veadeiros e as comunidades com ela relacionadas vem experimentando diversas transformações.

Turismo

Na região se destacam os turismos esotérico e ecológico. Nas trilhas entre serras e veredas são inúmeros os atrativos turísticos como rios, canyons, cachoeiras e águas termais.

O local possui uma fauna bastante variada, onde se destacam o lobo-guará e o veado campeiro. Já foram identificadas mais de 300 espécies de aves, algumas endêmicas do parque, outras ameaçadas de extinção, além de algumas raríssimas, como o pato mergulhão. Existem mais de 1.000 espécies de borboletas e mariposas, mais de 150 espécies de abelhas, além de sapos, rãs e peixes.

O solo é ácido e de baixa fertilidade, com altos níveis de ferro e alumínio. A vegetação no local é de cerrado, com diversas espécies raras, e outras tantas endêmicas. No parque, já foram identificadas cerca de 1.500 espécies de plantas.

As chuvas se concentram entre os meses de Novembro e Abril, ocorrendo pouca ou até nenhuma precipitação entre Junho e Setembro.

São Jorge

No início do século XX, por volta de 1912, foi descoberto grande volume de cristal de quartzo na região da Chapa dos Veadeiros. A abundância do mineral atraiu garimpeiros de vários lugares, que foram chegando para a região e formaram o "Acampamento do Garimpão".

A 2ª Guerra Mundial impulsionou os preços do cristal, o que fez aumentar a população de garimpeiros. Surgiu então um povoado que, inicialmente, foi chamado de Baixa dos Veadeiros e, depois, de São Jorge, por vontade de um garimpeiro devoto do santo guerreiro. A região chegou a ter mais de 3.000 homens trabalhando na extração artesanal de cristal, o que diminuiu o impacto ambiental, contribuindo para a conservação da região. O fim da guerra e a invenção do cristal sintético decretaram a queda do preço do cristal de quartzo, e isso gerou uma crise no garimpo.

Logo depois, a região começou a ser conhecida pela sua incrível beleza natural. Aos poucos, vai surgindo uma nova atividade econômica: o turismo. Com a implementação, em 1961, do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, esta atividade é proposta ao povoado como principal fonte de renda. Os moradores abraçam a ideia e começam a se adaptar à nova realidade. Inicialmente, o turismo era realizado de forma desestruturada e desordenada. No início dos anos 80, o IBAMA intervém, revitalizando o parque. Iniciaram-se atividades de educação ambiental e orientação à população local para receber melhor a visitação pública.

Em 2001, o Parque Nacional ganha da UNESCO o título de Patrimônio Mundial Natural.

A maioria dos moradores de São Jorge exercem atividades do Ecoturismo, prestando serviços em diversas áreas: condutores de visitantes, hotelaria, em restaurantes, artesãos, etc. Os moradores são, em grande parte, garimpeiros que deixaram o ofício.

São Jorge é distrito do município de Alto Paraíso, e está distante de Brasília cerca de 260 km. Conta com boa infraestrutura turística, com grande número de pousadas e alguns restaurantes e pizzarias. É em São Jorge que está localizada a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Sua população, de menos de 1.000 habitantes, esmera-se ao receber os visitantes.

No mês de julho, acontece o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, onde reúnem-se grupos culturais de todo o Brasil.

Alto Paraíso

Alto Paraíso de Goiás compõe a Chapada dos Veadeiros e, desde 2001, a Área de Proteção Ambiental - APA de Pouso Alto. Está localizada a 230km de Brasília-DF e a 412km de Goiânia-GO, e tem uma população de menos de 10 mil habitantes. A cidade conta com boa infraestrutura voltada para o turismo: pousadas, hotéis, restaurantes, bares, pizzarias, lojas de artesanato e de cristais.

Cavalcante

Em 1736, Julião Cavalcante e seus companheiros cruzaram o sertão em busca de novas minas de ouro. Encontraram uma mina imensa e de grande profundidade à margem do córrego Lava Pés. Esta notícia atraiu numerosos aventureiros, iniciando-se assim o povoado que recebeu o nome de Cavalcante, em homenagem ao fundador e colonizador.

Fundada em 1740 por Diogo Teles Cavalcante, a cidade tem uma população de pouco mais de 10 mil habitantes. É cercada por cachoeiras, cânions, serras e veredas. Em sua jurisdição fica 60% da área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Conta com uma estrutura básica de turismo, com alguns Hotéis, Pousadas e Restaurantes. Na cultura tem como principais atividades as romarias e folias, a caçada da rainha, danças como o lundu e a sussa. Em agosto, acontece o festival de música Instrumental e, em dezembro, a mostra de cinema Etnográfico.

Engenho

O Povoado do Engenho II localiza-se no município de Cavalcante, a 27 km da cidade, no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, que possui 237 mil hectares. Tem muita história e belíssimas cachoeiras.

O Povo Kalunga

Entre os séculos XVII e XVIII, os bandeirantes realizaram o sonho do encontrar ouro nas terras do interior do Brasil. A quantidade do mineral era muita. Muitos portugueses se mudaram para essas terras buscando o enriquecimento rápido. Esta nova leva de imigrantes trouxe consigo grandes contingentes de escravos africanos para trabalhar na mineração, tal qual ocorria nas lavouras de cana-de-açúcar.

O trabalho era constante e duro, cavando rios e ribeirões, com parte do corpo dentro d’água, tirando o cascalho para procurar as pepitas de ouro. Vários escravos viviam a maior parte do tempo na escuridão, trabalhando nas minas e cavando cada vez mais fundo para tirar o ouro de dentro da terra.

A ambição dos bandeirantes os fez adentrar as terras do sertão, avançando pelo cerrado. Em 1722, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, chegou àquelas terras que seriam chamadas de “minas dos Goiases”, nome dado em função de um povo indígena que vivia na região. Estava iniciando o ciclo do ouro. O trabalho na mineração era difícil e a condição de escravidão na qual viviam tornava a vida muito dura. As fugas eram constantes e os castigos àqueles que eram recapturados muito severos. Entretanto, mesmo correndo o risco de serem pegos, os escravos continuavam tentando fugir em busca da liberdade.

Para evitar a recaptura, os fugitivos iam cada vez mais longe, refugiando-se nas matas e locais de difícil acesso. O relevo extremamente acidentado da região da da Chapada dos Veadeiros, formando um verdadeiro mar de serras, dificultava as buscas. Foi ali que se estabeleceu uma grande quilombo, hoje conhecido como território Kalunga. Este território também tem uma grande quantidade de rios que o abastece de água. O principal rio da região é o Paranã, afluente dos rios Tocantins e Amazonas.

Entretanto, o território Kalunga não era desabitado. Esta região também oferecia abrigo para diversos povos indígenas. Haviam diversas nações, como os Acroá, Capepuxi, Xacriabá, Xavante, kaiapó, karajá e Avá-Canoeiro.

Os índios viam os negros como parte do mundo dos invasores brancos, que eles tanto temiam. Isso dificultou um pouco a aproximação. Os negros, conforme tinham aprendido com seus antigos senhores, viam os índios como pessoas bravas, ou "não amansadas", o que lhes causava receio. Mas, se havia o receio entre os povos, não havia inimizade. Foi apenas uma questão de tempo para que a aproximação e o convívio, inclusive com casamentos, acontecessem.

Além dos quilombolas e índios, outros negros, que no século XIX se mudaram para aquelas serras e ali foram abrir fazendas ou viver em pequenos sítios, se juntaram ao povo Kalunga. Assim, lentamente, o povo Kalunga foi se estendendo pelas serras em volta do rio Paranã, por suas encostas e seus vales, que os moradores chamam de vãos.

A população Kalunga é uma comunidade originalmente formada por descendentes dos primeiros quilombolas, passando a viver em relativo isolamento, construindo para si uma identidade e uma cultura próprias, com os elementos africanos mesclados aos europeus, marcados pela forte presença do catolicismo. É uma comunidade que construiu a sua cultura ao longo de quase trezentos anos de isolamento.

No dia-a-dia, o povo Kalunga se dedica à plantação de mandioca, arroz, fumo, milho e, às vezes, feijão. Cria gado e aves, pratica a caça e a pesca. Mas a fabricação de farinha – que envolve toda a família, numa espécie de ritual –, é a atividade produtiva mais importante, base principal do seu sustento.

Em 1991, toda área ocupada por esta comunidade foi reconhecida oficialmente pelo governo do estado de Goiás como sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga.

A área Kalunga, com mais de 230 mil hectares de cerrado protegido, é a maior comunidade quilombola do Brasil, com cerca de 4.000 pessoas que tiveram contato com a "civilização" há pouco tempo - um povo mágico de forte sangue negro.

Hoje eles ocupam um território que abrange parte dos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. São cinco núcleos, abrigando cerca de cinquenta grupos de base familiar: Vão de Almas, Vão do Moleque, Contenda, Kalunga e o Ribeirão dos Bois, antigo Ribeirão dos Negros.

Essa região permanece relativamente intacta e com muitas riquezas naturais, protegida a partir da decretação do Sítio Histórico do Kalunga. As festas santas dos Kalungas são repletas de rituais cerimoniosos, como a Festa do Império e o Levantamento do Mastro, que têm coreografia complexa e atraem centenas de visitantes. As festas da sede também são muitas e carregadas de tradição: a Caçada da Rainha, a Festa do Divino, A Folia de Reis, a caminhada da Sexta-feira Santa ao topo do Morro da Cruz.

O Cerrado

Cerrado é a denominação dada à savana brasileira, bioma que ocupa 25% do território nacional, tem uma terra fraca, com vegetação baixa e tortuosa, porém rica e variada. No cerrado, em metade do ano chove muito, na outra metade não chove nada. Até o final do século 20, era considerada região sem vocação agrícola e viável apenas para a pecuária extensiva. Nos anos 1970 e 1980 foram desenvolvidas variedades de sementes adequadas à insolação do lugar e o uso de fertilizantes aumentou consideravelmente, tornando o cerrado, com seu relevo pouco acidentado e o regime de chuvas previsível, território ideal para a expansão do cultivo de cereais. A pecuária foi intensificada, tanto pela disseminação de novas variedades de pasto mais produtivas quanto pelo uso de correção de solo e de fertilizantes. O centro-oeste conquistou o título de celeiro do Brasil.