Cidade de Goiás / Goiás Velho


No meio do cerrado, a savana brasileira, bandeirantes paulistas de origem portuguesa encontraram ouro em uma região de índios pacíficos, os Goiá. No entorno da exploração do ouro surgem áreas de cultivo, de criação de animais e, posteriormente, cidades. A prosperidade da região, ainda que incipiente, atraiu a Corte e a Igreja. O declínio da extração mineral trouxe décadas de marasmo, e a valorização da cultura e da história resgatou a beleza dessa cidade. A Cidade de Goiás junta história, cultura e uma ambiente tranquilo. Ali aprendemos, sentimos o passado, e temos ótimos momentos de contemplação.

Os bandeirantes exploraram a região entre os séculos 17 e 18 e encontraram algum ouro. A extração do mineral atraiu pessoas em busca da riqueza. Inicia assim a história da cidade de Goiás: o sonho da riqueza pelo ouro. Foi suficiente para estabelecer a cidade que, posteriormente, seria escolhida capital da província. A religiosidade dos bandeirantes e também a vinculação da Corte Portuguesa à igreja Católica acabava por trazê-la sempre junto.

Junto com o ouro, a necessidade de Portugal consolidar seus domínios nessas terras disputadas com a Espanha permitiu a estabilização da cidade. O Arraial de Sant'Anna foi usado como aldeamento indígena, com o objetivo de "civilizar" índios do Brasil central. A Corte Portuguesa queria súditos e queria consolidar seu domínio sobre o território, além da riqueza prometida pelo ouro. A Igreja queria fiéis e também a sua parte do ouro. Infelizmente, o contato com o homem branco sempre foi catastrófico para o índio. Mesmo quando o relacionamento se desenvolvia de forma pacífica, a baixa resistência dos índios às doenças trazidas de além mar acabavam por dizimar suas populações.

É nesse contexto que surgiu Goiás, apareceu com o ouro, estagnou com o seu desaparecimento. Manteve-se como cidade porque capital de província e de estado.

Hoje, Goiás tem muita história a nos oferecer, além de cultura e um ótimo lugar para apreciar a vida passar lentamente. Em função da importância histórica e do conjunto arquitetônico, a Cidade de Goiás foi reconhecida em 2001 pela Unesco como Patrimônio Histórico e Cultural Mundial. As ruas do Centro Histórico são pavimentadas com pedras irregulares, como há três séculos. A cidade conserva o casario de quando o Brasil ainda era colônia portuguesa. Muitas residências do município, hoje com 25 mil habitantes, mantêm as paredes feitas de barro. A arquitetura típica tem as casas geminadas, pintura das paredes claras, muitas vezes brancas, e aberturas coloridas. A "porta da frente" geralmente aberta e dando acesso a um pequeno hall onde o visitante pode se proteger do calor até que as pessoas da casa venham abrir a "porta do meio", essa mantida fechada para garantir a intimidade da família.

A cidade de Goiás tem a Serra Dourada ao Sul, o Morro Dom Francisco a Leste e o Morro do Cantagalo (Morro das Lajes) ao Norte, fica 270 km distante de Brasília, 150 km de Goiânia, e a 1.300 km do litoral.

Como chegar em Goiás Velho


Um pouco da história de Goiás

No início do século 17, o sertão dos Guayases, ou sertão do gentio Goiá, era um imenso território conhecido apenas através de breves registros. Entre 1682 e 1684, o paulista Bartolomeu Bueno da Silva, acompanhando de seu filho de mesmo nome, empreendeu uma bandeira por essa região. Esta expedição encontrou algum ouro nos córregos da bacia do Rio Vermelho, entre a Serra Dourada e a Serra de Santa Rita. Foi nessa bandeira que ele recebeu dos índios o apelido de Anhanguera (Diabo Velho, Espírito Maligno), depois de haver despejado aguardente em uma cuia e ateado fogo à mesma, ameaçando fazer o mesmo ao rio inteiro se eles não lhe indicassem onde encontrar o ouro que ele procurava.



Em 1722, Bartolomeu Filho retornou aos sertões para localizar novamente o ouro que havia visto na bandeira de seu pai, 40 anos antes. Três anos após o início da expedição, em 1725, encontrou boa quantidade do metal no Rio Vermelho e seus afluentes. Voltou imediatamente a São Paulo para prestar contas do que havia encontrado. Em 1726 retornou já como Superintendente das Minas de Goiás e fundou os Arraiais da Barra, do Ferreiro, de Ouro Fino e de Sant'Anna.

Aparentemente, o Arraial de Sant'Anna era o mais rico dos Arraiais, e foi ali que o Anhanguera Filho se estabeleceu para exercer a Superintendência das minas. O rio foi inicialmente denominado de Cambaúbas, pela quantidade dessas árvores que havia por perto. Logo, em virtude do volume e da cor da lama oriunda das minerações, passaram a chamá-lo Rio Vermelho.

A primeira edificação da Igreja Matriz de Sant'Anna foi erguida em 1729, na margem esquerda do rio. Essa Igreja, baseada em planta da Europa, ruiu três vezes em menos de dois séculos, provavelmente pela dificuldade em se conseguir boas pedras e madeira leves e retas, além da baixa qualidade da mão de obra. Em 1734 foi erguida a Igreja do Rosário na margem direita do rio, na saída que levava às Minas Gerais e à Bahia.



Em 1736 a Coroa Portuguesa decidiu transformar o então florescente território das minas de Goiás em comarca, separando-o da comarca de São Paulo. Em 1739 o governador de São Paulo, Conde D'Alva, foi a Goiás para instalar a nova comarca. A escolha da sede da comarca ficou entre o Arraial da Meia Ponte, onde predominavam os portugueses, e o Arraial de Sant'Anna, onde predominavam os paulistas. O Arraial de Sant'Anna foi escolhido por permitir, caso necessário, assegurar com maior facilidade a defesa do Mato Grosso. A comarca foi instalada em 25 de julho de 1739, quando passou a ser chamado Villa Boa de Goyaz.

A Capitania de Goiás foi formalmente criada em 8 de novembro de 1744, e o primeiro governador, o Conde dos Arcos, tomou posse apenas em 1749.

O ouro, relativamente abundante no início, em menos de um século tornou-se escasso. Mesmo com o declínio, casas foram sendo construídas, de início palhoças, depois casas de pau-a-pique, posteriormente taipa-de-pilão. As poucas árvores altas das beiras de córrego sumiram rapidamente, a terra fraca não ajudava para a formação e manutenção das roças. A Villa Boa tornou-se um ponto de comércio de alguma importância ao fazer a ligação entre o litoral e as ainda mais isoladas minas de Mato Grosso.

Em 1761 foram erguidas a Casa de Câmara e Cadeia (no mesmo prédio) e a Igreja de São Francisco de Paula. Nos anos de 1770, em uma cidade já decadente, o Barão de Mossâmedes construiu o chafariz de cauda e um primeiro teatro. Em 1780 foi construída a Igreja de Santa Bárbara, sobre uma colina, dominando toda a vila. Em 1782 a Vila Boa contava com cerca de três mil habitantes e toda o atual centro histórico já estava ocupado com construções.



A elevação da Vila Boa de Goiás à condição de Cidade de Goiás ocorre em 1818.

Após a instalação do Império no Brasil, em 1822, ocorreu a consolidação da capital de Goiás. Em 1823 a prelazia se transformou em bispado. Durante os 70 anos que durou o Império no Brasil, a Cidade de Goiás conheceu algumas melhorias, tais como hospital, biblioteca, Liceu e Seminário. Assistiu-se também à ascensão das artes em geral e do nível cultural da elite da cidade.

Em 1890 Goiás tinha 10.000 habitantes, número que declinou para 8.250 em 1932. O governador interventor Pedro Ludovico declarou que o Estado não progredia em virtude da má localização da velha capital. Por isso, em 1933 decidiu mudá-la de lugar. Em 1937 a capital foi transferida para Goiânia.

Entre 1950 e 1951 são tombados como monumentos pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a Igreja de Nossa Senhora da Abadia, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de Santa Bárbara, Igreja de São Francisco de Paula, Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte (Museu de Arte Sacra da Boa Morte) e Casa do Antigo Quartel da II Companhia (Quartel do XX Batalhão de Infantaria), a Casa de Câmara e Cadeia (Museu das Bandeiras), além do Palácio Conde dos Arcos.

Aproveitando suas características históricas, e reagindo, ainda que de forma inconsciente, ao ressentimento pela perda de status de capital do estado, os vilaboenses se apegam ao seu passado colonial, na valorização de seus monumentos, nas tradições, na ritualização do poder. Na década de 70 algumas pessoas começam a perceber o valor do Patrimônio Histórico para a cidade e fundam algumas entidades civis com o objetivo de protegê-lo - como a Organização Vilaboense de Artes e Tradições (OVAT), a Fundação Educacional da Cidade de Goiás (FECIGO) e o Movimento Pró-Cidade de Goiás Patrimônio da Humanidade.

Uma das formas encontradas para gerar riquezas para o município e para sair do ostracismo foi o desenvolvimento do turismo. Em 1978 mais alguns sítios históricos foram tombados: a Praça Brasil Caiado, Largo do Chafariz, rua da Fundição e Conjunto Arquitetônico e Urbanístico (extensão de tombamento) do centro histórico da Cidade de Goiás, que foi tombado como monumento histórico. Logo, torna-se Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. E em 27 de junho de 2001, na sede da UNESCO, em Paris, foi concedido a Goiás o título de Patrimônio Artístico e Cultural da Humanidade.




Mais sobre o tombamento da cidade:

“Cartografia de Goiás: Patrimônio, Festa e Memórias”

“Site da UNESCO - Centro Histórico de Goiás”


Cultura em Goiás

Uma característica da produção musical do Brasil Imperial é que a Igreja posiciona-se como seu centro. Assim é também em Goiás. Infelizmente, grande parte das partituras da produção musical vilaboense foi perdida no incêndio da Igreja da Boa Morte em 1921.

Em 1853, chega a Goiás o primeiro piano. Em 1857 é fundado o Theatro São Joaquim, no Beco da Lapa. Ele é palco de muitas encenações, apresentações de bandas e até óperas. Esse espaço cultural incentiva a que se criem na cidade diversas bandas. Em 1928 o Theatro São Joaquim é demolido para dar lugar ao Hotel Municipal.

José Joaquim do Veiga Valle (1806 - 1874) nasceu em Meia Ponte (Pirenópolis), mas em 1941 casou-se com a filha do Presidente da Província de Goiás e fixou residência na Vila Boa. É talvez o mais famoso pintor e escultor goiano. Esculpiu muitos santos e seu material predileto era a madeira de cedro. Ficou conhecido pela delicadeza e beleza que conseguia imprimir aos rostos de suas imagens. Uma de suas imagens do menino Jesus encontra-se no Vaticano.

Tradição herdada dos escravos negros e, talvez, também dos índios, a cerâmica é tradicional na Cidade de Goiás, em especial na confecção de panelas que, dizem, atribuem um sabor muito mais apurado aos alimentos.

Merece menção a Semana Santa, quando é realizada a Procissão do Fogaréu, uma representação da perseguição a Jesus. Os farricocos saem da porta da Igreja da Boa Morte portando tochas, andam acelerados em direção à Igreja do Rosário, onde encontram a mesa onde teria sido realizada a Santa Ceia. Seguem depois em direção à Igreja de São Francisco, onde trazem uma imagem de Jesus com as mão amarradas com grossas cordas, representando a prisão do Cristo. Soam então os clarins anunciando a prisão.



Não podemos também esquecer da poetisa Cora Coralina, a doceira que começou a escrever aos 75 anos e hoje é uma das personagens mais famosa da cidade. Há também Goiandira do Couto, que pintava quadros com as areias da Serra Dourada, usava areias sem colorí-las, somente os matises da natureza eram suficientes para ela elaborar seus belos quadros.


O Cerrado e a Serra Dourada:

Cerrado é a denominação dada à savana brasileira, bioma que ocupa 25% do território nacional, tem uma terra fraca, com vegetação baixa e tortuosa, ainda que rica e variada. No cerrado, em metade do ano chove muito, na outra metade não chove nada. Até a metade do século 20, era considerada região sem vocação agrícola e viável apenas para a pecuária extensiva. Nos anos 1970 e 1980 foram desenvolvidas variedades de sementes adequadas à insolação do lugar e o uso de fertilizantes aumentou consideravelmente, tornando o cerrado, com seu relevo pouco acidentado e o regime de chuvas previsível, território ideal para a expansão do cultivo de cereais. A pecuária foi intensificada, tanto pela disseminação de novas variedades de pasto mais produtivas quanto pelo uso de correção de solo e de fertilizantes. O centro-oeste conquistou o título de celeiro do Brasil.

A Serra Dourada tem altitudes que variam entre os 500 m da Cidade de Goiás e os 1.000 metros na Serra. Uma das primeiras áreas nominadas no planalto do Brasil central. Recebeu este nome pelos brilhos dourados que emite em alguns horários. Também compõe o mais importante divisor de águas do Brasil, com nascentes que ajudam a formar as bacias do Paraná, no rumo Sul, do Amazonas, no Norte, e do São Francisco, no Nordeste.